Por trás dos números, Ricardo Amorim se coloca à frente de seu tempo

8 de fevereiro de 2021 em  Revista Estilo

Economista, apresentador, mentor, estrategista e gestor de investimentos são algumas das qualificações para descrever Ricardo Amorim, quem, desde o início da década de 1990, tem forte atuação no mercado financeiro nacional e internacional e que ganhou o reconhecimento da população brasileira quando passou a participar, em 2002, do programa Manhattan Connection, na época da GloboNews.

Desde então, ele é referência em assuntos econômicos devido a suas análises precisas sobre a situação do país e dos diferentes setores da economia, bem como por conta das previsões certeiras dos desdobramentos de muitos acontecimentos. Inclusive, é essa interpretação de cada cenário – que, às vezes, parece até uma “leitura do futuro” – que o torna tão cobiçado por empresários, líderes e mídia.

As premiações constantes e sua presença em importantes listas não deixam essa realidade passar despercebida. Desde 2015, Amorim figura entre as 100 pessoas mais influentes do Brasil, segundo a revista Forbes. Recentemente, mostrando que entende não apenas de números, mas, também, da importância das redes sociais (ele está presente em todas as principais), foi escolhido pelo LinkedIn como o maior influenciador do Brasil, sendo ainda o mais seguido no mundo nessa plataforma (excluindo China e países de língua inglesa). É nela que ele figurou, em 2019, como a personalidade com maior taxa de conversão – ou seja, com muitos seguidores e pouca rejeição.

Se a lista de indicações não acaba tão rapidamente (precisaríamos de algumas páginas para falar dela inteira), o dia do economista também parece que não. Ou pelo menos indica ter mais de 24 horas, já que, além de tudo o que já foi citado aqui, ele cofundou duas startups, a AAA Inovação e a Smartrips, e está à frente da Mentoria Ricardo Amorim.

Foi em meio a tantas atividades que ele aceitou o convite da Estilo Perplan para bater um papo sobre sua vida como profissional multifuncional, omnichannel e visionário e sobre o cenário social no qual enfrenta a missão de levar mais conhecimento às pessoas, permitindo que tomem decisões com sabedoria e segurança. Confira nossa conversa:

Como surgiu seu interesse pela economia?

Foi de uma forma engraçada. Quando chegou o momento de eu fazer o vestibular, não tinha a menor ideia para qual curso prestar. Estava na dúvida entre os assuntos mais diferentes possíveis e Economia era uma das possibilidades. Pensei, também, em Administração, Jornalismo, Educação Física, Medicina. Ou seja: não tinha a mais básica noção. Porque gostava de muitos assuntos. Então, conversei com o meu pai, que é publicitário, e ele me aconselhou a escolher Economia, já que ela poderia me dar uma base mais ampla para possíveis decisões no futuro. Daí fui estudar o tema sem muita convicção. Mas acabei adorando.

Em algum momento você se questionou sobre sua decisão?

Nunca duvidei da escolha, no sentido que sempre gostei e atuei na área. Mas, da mesma forma que, quando fui prestar o vestibular, tinha interesse por muitos temas diferentes, ao longo da vida continuei tendo. Até por isso sempre trabalhei e continuo trabalhando em várias áreas, que não estão, necessariamente, ligadas à economia. Tenho, por exemplo, algumas empresas das quais sou sócio e atuo como economista, mas também como empreendedor. Tenho, ainda, atuação na mídia, como jornalista. Então, nunca duvidei da Economia, contudo, por outro lado, meus interesses múltiplos continuaram me acompanhando.

Essa atuação profissional diversa já era um plano desde o início de sua carreira ou aconteceu espontaneamente?

Foi acontecendo, especialmente na TV. Porque quando ainda trabalhava em instituições financeiras – no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos –, sempre dava muitas entrevistas, porque uma das minhas tarefas era informar a mídia sobre projeções econômicas e as opiniões das empresas nas quais trabalhava sobre determinados assuntos. Em 2002, quando houve eleições, fui procurado pelo Manhattan Connection. Na época, eu trabalhava em Wall Street, o dólar custava cerca de R$ 2 e o povo estava preocupado. E me levaram para falar sobre o assunto. Por uma série de fatores, eu acreditava que o dólar cairia, mas essa era uma opinião contrária à da maioria. Tinha até um banco norte-americano que previa o dólar a R$ 8 no mesmo ano. Mas eu achava que era, exatamente, o contrário – que foi o que acabou acontecendo. A moeda entrou em movimento de queda logo depois da eleição do Lula e passaram a me chamar com mais frequência. Com isso, eles já estavam considerando a hipótese de me chamar para ser um dos apresentadores do programa, até que fizeram o convite e eu topei. Achei que poderia ser uma oportunidade de falar com um público mais amplo sobre uma série de questões que julgava muito importante. A partir daí, adorei essa presença na mídia, que venho mantendo desde então.

Como você faz para se manter informado sobre tantos assuntos, uma vez que sua área abrange muitos segmentos?

Fundamentalmente, sou viciado em informação. O que isso significa na prática? Leio muito sobre tudo, desde informações, cada vez mais online, até livros. Podcasts venho ouvindo muito também. À parte disso tudo, sempre gostei muito de números, de matemática. Então, algo que eu mesmo faço são análises a partir de dados e informações que acho interessantes. Às vezes, até usando planilhas e softwares que me permitem aprofundar no que me chamou atenção a respeito de certo assunto.

Você já se percebeu sobrecarregado pela quantidade de informação ou lida bem com esse volume?

Acho que ambos. Lido muito bem com uma quantidade muito grande de informação; sempre fiz isso. Mas tenho me sentido sobrecarregado cada vez mais. O número de informação que geramos e temos acesso é cada vez maior. Particularmente na pandemia, isso para mim aumentou bastante, porque um dos aspectos que passei a acompanhar de perto foram os diferentes assuntos impactados por ela e que afetam diretamente a economia. Se eu não entender como evolui a contaminação, por exemplo, não conseguirei entender o que acontecerá com a economia. Ou seja, passei a ter um assunto a mais, bastante vasto, para acompanhar bem de perto. Tanto que acho que tenho me sentido mais sobrecarregado porque não estou colocando na prática uma técnica que tenho para evitar esse burnout (*): uma vez que coloco algo novo na minha vida, tiro algo. A lógica disso é que, para entrar algo novo, tem que ser mais importante, mais interessante, mais valioso que algo que já está na minha vida. Essa é a minha regra de equilíbrio. Mas esse assunto novo que surgiu para acompanhar acabou ocupando um espaço e não tirei outros, já que é algo específico e diferente.

Além desse aspecto, a pandemia teve outras reverberações na sua vida?

Muitas e de todas as formas. A primeira delas foi minha participação em eventos. Pré-pandemia, eles eram quase que, exclusivamente, presenciais. Até é interessante que, há alguns anos, tentei migrar mais para eventos online e não tive sucesso. Mas a pandemia fez o que era presencial virar, por hora, completamente online. Por isso, estou viajando muito menos. Na verdade, não estou viajando. Não lembro quando, antes disso, passei mais de seis meses sem entrar em um avião. Devia ser adolescente. Mas o legal é que ganhei mais tempo em casa, com a minha família. Além disso, brinco que meus negócios, nos primeiros dias da quarentena, caíram mais de 100%. Nossas vendas foram a zero e a ainda tivemos o cancelamento de eventos físicos já programados. Só que esse cenário de crise durou 15 dias. Depois, tivemos a migração para o online e, já nos últimos meses do ano, seguimos crescendo, significativamente, em relação aos mesmos meses de 2019. Mas no começo foi bastante complicado. Outro aspecto interessante foi o home office. Nas empresas das quais sou sócio, a maioria da equipe falou que adorou e preferia não ter que voltar. Resultado: por volta de outubro, fechamos o escritório e optamos por trabalhar, exclusivamente, em home office. Permanentemente. Uma das possibilidades que isso me abre é trazer para a equipe pessoas do Brasil inteiro.

Quanto ao crescimento, foi um movimento natural ou resultado das estratégias adotadas?

Os dois. Teve uma migração gigante dos eventos do mundo físico para o online e isso, certamente, possibilitou que pudéssemos ter essa recuperação. Por outro lado, fizemos um trabalho muito bom de oferecer produtos voltados para a nova realidade e, principalmente, ajudar as pessoas e as organizações a entenderem as mudanças que estamos vivendo. Aí vem aquela parte analítica da qual falei: conseguir, de fato, agregar e melhorar o funcionamento das empresas a partir de uma série de estudos que fizemos a respeito disso.

Nesse sentido, qual o maior desafio de analisar a economia em meio a tantas informações e transformações?

O maior desafio decorre do fato – que não é novidade – de, em economia, tudo ser interconectado. Isso significa que algo que acontece e, às vezes, parece muito distante de nós, mexerá com a nossa vida. Trabalhei em mercado financeiro desde 1992 e acompanhei alguns fatos bem nessa linha. Por exemplo: em 1997, houve uma crise na Tailândia que, basicamente, trouxe abaixo a economia de todos os mercados emergentes. Aí você pensa: o que eu tenho a ver com algo que está acontecendo na Tailândia? Mas as pessoas perderam emprego aqui no Brasil por conta da crise de lá. Desde então, consigo avaliar bastante bem essas conexões e acompanho de perto muitos fatos que, para a maioria, não tem importância, mas eu sei que terão efeito, mesmo que não seja imediato. O que mudou, mas não devido à pandemia e, sim, nos últimos 10 anos, é que estamos vivendo uma aceleração muito grande das transformações de modelos de negócios e de produtos. Isso faz com que os impactos na economia sejam mais frequentes. Sendo assim, a dificuldade de fazer boas previsões econômicas aumentou. Entretanto, paradoxalmente, isso me ajuda, e muito, porque como esse é um assunto que entendo há muito tempo e que nem todo mundo entende – diria que a maioria –, tive uma vantagem competitiva importante, de antecipar uma série de acontecimentos, para os quais vejo os sinais que a maioria ainda não vê.

Como aumentar a compreensão do brasileiro sobre economia para que ele consiga fazer boas escolhas?

Essa é minha missão na vida. Acredito que quanto mais gente e organizações entenderem a economia, melhores decisões tomarão. Do ponto de vista das pessoas, serão melhores resultados financeiros e na carreira, como dinheiro para realizar os sonhos; para as organizações, mais resultados, crescimento e, por consequência, contratar mais gente, pagar melhor, o que melhorará a vida dos brasileiros em geral. Então, minha missão é exatamente essa: generalizar a compreensão sobre como funciona a economia para que as pessoas possam tomar decisões melhores. Por que julgo que isso não acontece? Em grande medida, por culpa dos economistas, de nós que, na maioria dos casos, falamos em jargões próprios, de difícil entendimento. Isso acontece não só entre os economistas. Todos os grupos profissionais o fazem. Mas como a economia mexe o tempo inteiro com a vida de todos, acho que deveríamos ter como missão tornar a economia compreensível. Por isso a tomei para mim. É exatamente o que me esforço em fazer, já que isso daria uma oportunidade muito melhor para a vida de todo mundo.

Até para melhor se comunicar com o público, você tem uma presença muito forte nas redes sociais, em especial no LinkedIn. Foi uma estratégia de ação?

Adoraria falar que sim, mas seria uma grande mentira. Foi completamente espontâneo. O que aconteceu no caso do LinkedIn, por exemplo, é que ele é a principal rede social de negócios, área com a qual tenho mais afinidade. Por isso dei mais atenção a ela, apesar de estar presente em todas as principais redes. Efetivamente, tenho uma presença consolidada em todas, que, juntas, me dão um pouco mais de 5 milhões de seguidores, que nem acho tanto assim. Só que tenho um engajamento muito forte, ou seja, uma interação muito grande com as pessoas, além de ser um público, particularmente, qualificado que me segue. Isso é importante, porque tem muita gente que é formador de opinião e repercute o que eu falo. Isso acaba por gerar um impacto muito maior.

Dentro de suas análises, você vê algum sinal de saturação das redes sociais? Ou ainda estamos em um movimento de expansão?

Por um lado, acho que a quantidade de redes diferentes surgindo continuará a aumentar, porque temos um movimento de novidades que funciona mais ou menos assim: surge algo que não existia e, por algum tempo, aquilo vira loucura. Aí, tem um movimento de queda, já que nada se sustenta em alta para sempre. Algumas, que se firmam de fato, apresentam um crescimento mais lento, mas mais sustentável. Então, pensando nelas, vejo algumas ainda com espaço para crescer e outras com tendência de queda. Particularmente, vejo o LinkedIn ainda crescendo de forma sustentável, porque está em uma área na qual não é o único, mas é dominante. Outro aplicativo que acredito que continuará crescendo bastante é o Instagram. Das mais novas, o TikTok é o que mais desponta pela série de formatos diferentes, o que repercute muito, embora, se olharmos para trás, temos o Snapchat, que nunca conseguiu se consolidar. Pode acontecer o mesmo com o TikTok, mas tenho a impressão que não. Em contrapartida, as que percebo que sofrerão mais são o Facebook e o Twitter. A razão é que essas duas redes acabaram sendo muito politizadas, polarizadas e se tornando uma fonte muito grande de propagação de fake news. Exatamente por isso, tem muita gente já cansada delas. Acredito que o universo das redes sociais continuará a crescer, mas teremos muitas transformações.

Pensando nas inovações trazidas por essas mudanças, o que é, para você, ser inovador?

Inovação é pegar um velho problema ou algo que as pessoas nem percebiam como problema e oferecer uma nova solução. Ela passa por dois passos. O primeiro: uma ideia nova. Se você conseguir ver algo de uma forma diferente, inovará. Mas o segundo passo é ainda mais importante: a execução; transformar aquela ideia em realidade. Muita gente se engana e acha que só uma ideia diferente é inovação. Mas uma ideia não posta em prática é apenas uma ideia. E, não raramente, aplicar a ideia é a parte mais difícil. Esse é um tema que me interessa muito e no qual invisto há muitos anos. Mais recentemente me envolvi em iniciativas que têm o objetivo de fazer a inovação acontecer. A primeira delas, que nasceu há três anos e meio, é a AAA inovação. Um serviço para mostrar tudo aquilo que está acontecendo de inovador no Brasil e no mundo, a fim de que as pessoas percebam que os modelos tradicionais de negócio mudarão. Ou elas entendem isso ou ficarão obsoletas. Esse era um primeiro objetivo que, em geral, ajudou, mas não resolveu o problema. Aí, há cerca de um ano, eu cofundei a Mentoria Ricardo Amorim, com a ideia de ajudar as pessoas a entenderem melhor esse ambiente de transformações aceleradas e estarem prontas para fazer parte delas. Afinal, as lideranças das empresas entenderem isso facilita para a inovação acontecer e as mudanças serem bem mais consistentes. O resumo dessa ópera é: acho a inovação tão essencial para os negócios, a carreira de todos e a economia brasileira que venho, nos últimos anos, me dedicando e pensando em como colaborar cada vez mais para que isso aconteça da forma mais ampla possível.

O reconhecimento da importância da inovação a tornou aspecto fundamental na Governança Corporativa. Você avalia que as empresas estão mais preocupadas em aplicar tais processos?

Tenho a impressão que sim e tem um pouco a ver com a questão de estarmos vivendo transformações mais frequentes. Um dos cursos no qual dou aula de inovação, por exemplo, trata disso: formação de conselheiros para a inovação. Porque o lado deles passa, especificamente, pela Governança, mas não necessariamente pela inovação. Normalmente, os dois são tratados de forma separada e, às vezes, até antagônica. Inovação exige criatividade, você testar algo novo, algo que pode não dar certo. Já a Governança está preocupada em criar processos que possam ser replicados e que, sabidamente, funcionam. Contudo, precisamos cada vez mais ter esses dois aspectos caminhando juntos. Ao mesmo tempo, você precisa ter o dia a dia funcionando bem, processos com Governança bem definida para que, em paralelo, tenha liberdade para inovar, experimentar caminhos novos que, se derem certo, poderão abrir oportunidades melhores. Às vezes, o que via eram empresas que ou eram boas em uma ou em outra coisa. Por isso tenho me dedicado para que ambas possam acontecer juntas. Elas parecem antagônicas, mas acredito exatamente no contrário: uma possibilita que a outra funcione bem.

(*) “Síndrome de Burnout” é um distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema, relacionado ao trabalho de um indivíduo. Essa condição também é chamada de “Síndrome do Esgotamento Profissional”.