Desejo de morar bem: as novas preferências arquitetônicas

14 de abril de 2021 em  Revista Estilo

Plantas flexiveis: o novo modo de comprar a sua casa

A imposição de isolamento social forçou as pessoas a repensarem sua interação com o próprio lar, criando novos significados aos espaços internos e reformulando as demandas no mercado imobiliário 

 

De tempo em tempos, a sociedade passa por transformações de comportamento devido a diferentes fatores, como mudanças na maneira de pensar, surgimento de novas tecnologias ou adaptação a acontecimentos naturais. Alguns deles, contudo, são mais drásticos e intensificam esse processo, como foi o caso da mais recente pandemia e do distanciamento social imposto por ela.
Com parcela da população isolada, o jeito de ver as casas, os apartamentos e outros formatos de moradia ganhou novos ângulos, especialmente sob a luz de necessidades emergentes ou possibilidades que já existiam e, de repente, se tornaram prioridade.
Sem dúvida, o maior e mais comentado exemplo foi a adoção massiva do home office, que obrigou muita gente a improvisar um espaço particular para continuar trabalhando. Entretanto, o âmbito profissional não foi o único impactado. Passar tanto tempo dentro de casa provocou a reflexão sobre nossa forma de morar, tanto pela necessidade de individualização em certos momentos como o desejo de socialização em outros.

“O fato é que, ao longo da vida, as necessidades vão mudando. Resultante desse ciclo, os tipos de moradia desejados também se alteram. Mas a pandemia concentrou a família dentro de casa e criou uma série de repercussões quase imediatas. A segmentação dos ambientes sociais, por exemplo, como sala, cozinha e varanda, foi perdendo um pouco de força. Ter plantas flexíveis, com jogos de possibilidades, apareceu como um dos caminhos a serem trilhados”, avalia Ricardo Telles, diretor-presidente da Perplan.

Atentos a essa tendência de flexibilização, que já despontava no horizonte pré-pandemia, engenheiros e arquitetos passaram a apresentar projetos ao mercado imobiliário que atendessem aos novos parâmetros buscados pelos consumidores, como destaca o arquiteto Fernando Rivaben.
“A experiência do isolamento e do confinamento em casa aguçou nossa percepção em relação à qualidade do local onde moramos e, agora também, trabalhamos. Os projetos devem contemplar essa realidade, elaborando plantas que, independentemente do tamanho das unidades, sejam inteligentes, racionais, práticas e cumpram, sobretudo, a função de abrigar com conforto, dignidade e qualidade”, diz.

PLANTAS FLEXÍVEIS

Exemplo de adequação – que empresas atentas aos movimentos do mercado, como a Perplan, já apresentavam –, a cozinha deixou de ser um ambiente considerado “de serviço” para integrar a área social de casas e apartamentos. Assim, a famosa cozinha americana, que não apresenta divisórias com a sala, ganhou visibilidade e demanda.

Na mesma onda, as varandas mostraram uma metamorfose ao longo dos anos, com o aumento das dimensões para acomodar, com conforto, mais usuários e mobiliário. “Além da grande valorização da gastronomia e da evolução do design de eletrodomésticos e móveis, as pessoas passaram a desempenhar, elas mesmas, os trabalhos domésticos. No caso das varandas, churrasqueiras foram incluídas e, a partir de certo período, passaram a ser fechadas, climatizadas e integradas, efetivamente, às áreas sociais”, explica Rivaben, que aplicou tais conceitos em projetos arquitetônicos que levam sua assinatura, como o Marquises Park Residence, lançado pela Perplan e que está sendo construído no Jardim Botânico.

O arquiteto explica que esses projetos estão cada vez mais valorizados, enquanto espaços ociosos deixarão de existir. Ao encontro disso, Ricardo Telles cita a nova geração de plantas criadas nos projetos da incorporadora e urbanizadora.

“Os loteamentos fechados e os bairros planejados estão fortalecendo muito as áreas comuns, e as plantas dos apartamentos também estão valorizando a parte social. Assim, a varanda pode ser gourmet ou um home office – ajustes resolvidos no desenvolvimento do design de interiores. Mas a planta básica precisa permitir essa flexibilização”, alerta.

Telles lembra que ambientes flexíveis sempre fizeram parte dos projetos da empresa, como é o caso dos apartamentos com duas opções de cozinha. “No passado, a maioria optava pela cozinha fechada. Hoje, aumentou
muita a opção por cozinhas associadas à sala”, pondera.

Essas adequações, também na avaliação de Rivaben, são necessárias e farão com que projetos tradicionais e conservadores percam espaço no mercado. “É claro que, do ponto de vista técnico, temos algumas limitações
e condicionantes, mas, desde que o projeto seja concebido desta forma, é possível obter plantas bem versáteis e flexíveis”, completa.

UM PROJETO PARA CHAMAR DE SEU

Seguindo a tendência de flexibilização, a personalização dos projetos também emergiu no mercado imobiliário para oferecer “uma solução sob medida”. Ela dá ao cliente a oportunidade de realizar ajustes nas opções de planta e alteração nos acabamentos, de acordo com preferências pessoais, o que dá mais identidade ao apartamento.
A Perplan, que já conta com a possibilidade de personalização de ambientes para seus clientes desde antes da pandemia, oferece opções de revestimentos de piso, parede, louças, metais e bancadas, e disponibiliza um arquiteto ao longo de todo o processo, a fim de orientar sobre os acabamentos, as tendências e as opções de plantas.

“O estilo dos revestimentos apresentados estará sempre alinhado à linguagem do empreendimento. Para unidades que permitem mais alterações, sugerimos que os clientes contratem um arquiteto próprio para um atendimento mais exclusivo e que já considerará, em suas escolhas, a ocupação de cada um dos espaços, a distribuição de mobiliário, entre outras particularidades do perfil de cada cliente”, explica Ana Paula Caramico Lasaponari, coordenadora de Projetos de Incorporação da Perplan.

A tecnologia também ajuda nesse processo, como aconteceu no residencial Deodoro 2090, empreendimento da Perplan em Franca. Nele, um software on-line ajudou a identificar a unidade do cliente e já direcionar as opções de acabamentos, cujas amostras físicas estavam disponíveis no estande de vendas da incorporadora. Foram oferecidas, ainda, alternativas de pisos para as áreas íntimas e sociais, cubas diferenciadas, fechadura eletrônica e bancadas
de cozinha estendida para a instalação de cooktop, entre cozinha americana e sala, e com tanque de  embutir para a área de serviço.
Além do projeto em Franca, essa possibilidade já foi apresentada em outros empreendimentos da Perplan, como o Terraço d’Itália, na mesma cidade, o Liberdade 1226, em Uberlândia, e o Über Van der Rohe e o Upper, em Ribeirão Preto. Ela também está prevista para o Marquises Park Residence e o THZ 2965, também em Ribeirão. “A personalização tem muita aceitação, principalmente para os clientes finais, que, de fato, residirão na unidade, tornando-se um grande argumento de venda”, analisa a coordenadora de Projetos de Incorporação.

VOCÊ SABIA?

O estilo arquitetônico de cada época reflete os desafios e os aprimoramentos enfrentados pela sociedade naquele momento. Assim como a crise da Covid-19 resultou em novas possibilidades de plantas, outra pandemia foi responsável pela arquitetura modernista, nascida no início do século XX.
Segundo Fernando Rivaben, após uma crise de tuberculose, que assolou a Europa, detectou-se que a doença se propagava em ambientes fechados, escuros e sem ventilação. Os arquitetos da época passaram a criar, então, ambientes claros e abertos, ventilados com grandes janelas. “O mesmo aconteceu com o desenho do mobiliário,
igualmente limpo, sem reentrâncias, ou cantos de difícil limpeza e assepsia. Surgiu, assim, a arquitetura modernista, tão bela e valorizada até hoje”, conta.